Por Letícia Finamore

Dando início ao encontro dos três escritores, Matheus questionou os participantes sobre o Brasil que eles sonhavam para a nova geração, a começar por Theo, o bebê aguardado por Taiane. A escritora, por sua vez, compartilhou sua própria visão sobre mudanças, recordando sua infância e adolescência, quando acreditava de forma grandiosa que poderia mudar o mundo. Hoje, mantém essa crença, mas de maneira mais realista, reconhecendo que as mudanças profundas que deseja talvez não sejam vistas por ela, nem por Theo, nem possivelmente por seus netos. 

Com isso, destacou a importância de sonhar com um futuro ancorado na realidade. O tema do 4.º Flitabira, “Amor, Literatura e Ancestralidade”, fez com que ela refletisse sobre como Bell Hooks propunha o amor: como prática. Para Taiane, pensar em um futuro mais justo e humano também deve ser uma prática construída no presente. Essa ideia de transformar e contar histórias é o que a aproximou da literatura, impulsionando Taiane a questionar quais narrativas devem ser contadas e quais memórias devem ser preservadas. Indo por essa lógica, a futura mamãe argumentou essa afirmação com os trabalhos de Chimamanda Ngozi Adichie sobre o “perigo da história única”, que influenciou seus estudos e seu trabalho acadêmico.

Renato Noguera iniciou sua fala refletindo sobre os tipos de atmosferas culturais que caracterizam as sociedades, especialmente a partir de seus estudos em psicanálise e filosofia. Ele mencionou as “atmosferas cosmofílicas”, nas quais as pessoas tendem a operar na frequência do medo e da raiva devido à percepção de escassez de recursos. Isso leva a um campo afetivo marcado por conflitos intensos e disputas. No entanto, em sociedades que transcendem essa dinâmica, como quilombos e aldeias, embora existam tensões, elas são resolvidas sem recorrer à violência extrema, pois as pessoas não vivem constantemente presas ao medo e à raiva.

As atmosferas cosmofílicas são as desejadas por Renato, nas quais o amor é um regulador essencial das relações humanas. Segundo estudos neurocientíficos, esse regulador é um afeto que promove equilíbrio e bem-estar, atuando como um catalisador que ajuda a manter a saúde emocional e até física, como no caso da oxitocina, que repara tecidos do coração danificados. Indo além, Noguera afirmou que, para transformar a sociedade, é essencial cultivar um “letramento afetivo” que permita às pessoas respeitarem as diferenças e lidarem com tensões de forma construtiva, sem que isso seja uma questão de sobrevivência. Ele argumentou que muitas culturas perpetuam uma resposta amigdalar, das amígdalas, na qual o medo e a raiva dominam, levando a uma hipervigilância constante e comportamentos agressivos.

O amor é possível e necessário, como disse Noguera. O escritor diferenciou os afetos primários (como medo e raiva) dos afetos secundários (sentimentos) e terciários (pensamentos e racionalidade), destacando que o amor deve estar no comando, regulando os outros sentimentos. A presença do amor transforma a raiva e o medo em energias construtivas. No entanto, sem amor, essas emoções podem levar à destruição e ao desequilíbrio. Por isso, a violência é frequentemente resultado de um “déficit amoroso” que impede as pessoas de estabelecerem limites e respeitarem a vida.

Matheus Leitão acrescentou que o poder é uma energia que pode se tornar perigosa sem o equilíbrio proporcionado pelo amor. Ele citou exemplos como Marielle Franco e Bruno Pereira, seu amigo, figuras que lutaram por uma sociedade inclusiva na qual todos tenham espaço, contrastando com aqueles que acreditam que apenas alguns “eleitos” têm o direito de pertencer ao mundo. Ele concluiu afirmando que o amor precisa ser cultivado diariamente e que, às vezes, é necessário impor limites para que a sociedade funcione de forma harmoniosa. Marielle Franco e Bruno Pereira foram assassinados, respectivamente, em 2019 e 2022. 

A mesa de debates entre Taiane, Renato e Matheus seguiu com uma reflexão sobre ancestralidade, parte do tema do 4.º Flitabira, e um tema que, na sua visão, é indispensável para entender o Brasil contemporâneo. Assista ao encontro completo, transmitido em 4K, abaixo:

Sobre o Instituto Cultural Vale

O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org

Sobre o Flitabira

A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.

Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4.º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.

Serviço:

4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira
De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira
Entrada gratuita

Informações para a imprensa:

imprensa@flitabira.com.br
Jozane Faleiro  – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002