Eliane Marques, Calila das Mercês, Seu João Xavier e Alexandre Coimbra Amaral  participaram de mesa sensível que refletiu sobre mito e literatura

“Mito e Literatura: quem tem direito de escrever?” foi o tema da mesa que reuniu Eliane Marques, Calila das Mercês, Seu João Xavier e o mediador Alexandre Coimbra Amaral na noite desta sexta-feira, 31 de outubro, no 5.º Festival Literário Internacional de Itabira — Flitabira.

Eu tenho a honra de mediar essa mesa com três figuras sábias, amorosas, pujantes, jovens e criativas”, abriu a conversa o mediador Alexandre Coimbra Amaral. “A literatura é uma forma de a gente aproximar almas e corações”, prosseguiu. “Para onde nós caminhamos como país se nós descolonializarmos a relação entre mito e literatura? Para onde a gente vai? Que país a gente inventa?”, perguntou à mesa.

Eliane Marques abriu sua fala pedindo um “Parabéns pra você” para o aniversariante do dia, Carlos Drummond de Andrade. Este 31 de outubro marca os 123 anos do nosso poeta maior. Na sequência, a escritora leu o poema de Drummond que dialoga com a questão da colonialidade, chamado “Europa, França e Bahia”.

Tanto nos meus romances quanto nos meus poemas eu me preocupo com a temática do mito como fundante de uma sociedade”, comentou Eliane. “A sociedade se funda num ato de violência”, prosseguiu a autora. “Enquanto nós não mudarmos as formas de pensar os mitos fundacionais, nós não vamos sair desse lugar de assassinato coletivo, de genocídio.”

Seu João Xavier abriu sua fala refletindo sobre as relações entre estética e literatura, música e arquitetura. “Se a arquitetura é estética, se a música é estética, se a literatura é pura estética… por que a literatura de algumas pessoas conta e de outras não?” Ele prosseguiu: “Se a literatura incomoda, se ela te provoca… por que a literatura de alguns conta e a de outros não? Por que alguns são bem-vindos e outros não?”

Numa fala potente sobre a experiência negra, Seu João destacou.: “Eu acredito que a gente pode caminhar para um lugar em que pessoas como nós existimos, produzimos, temos o direito de escrever, de sermos publicados, de sermos lidos, de lermos, de falarmos e de errarmos.”

Calila das Mercês relembrou que 31 de outubro é o Dia do Saci, um mito afro-originário. “Uma personagem que diz tanto da nossa cultura, que celebra a natureza, que nos coloca a observar nossas diversas características nesse mundo.” Calila também refletiu sobre o conceito de escrevivência, idealizado por Conceição Evaristo. “Conceição nos convoca a olhar para outros mitos, a olhar para uma gênese que não é europeia. Ela nos convoca a olhar para uma gênese afro-brasileira”, destacou.

Alexandre direcionou uma pergunta para as pessoas brancas da plateia: “O que a gente sente quando escuta uma conversa sensível como essa?” O mediador prosseguiu: “Eu quero fazer um convite para que, todas as vezes que estivermos diante de pessoas que estão fazendo uma fala que é de amor indignado, uma fala que tem pulso para a transformação da sociedade, que nós não nos afastemos da escuta.”

“A sua pergunta é um caminho que eu vejo com muito otimismo. Quando eu participo de uma mesa com colegas que falam de questões que poderiam ter sido resolvidas anos atrás, mas seguem sendo repetidas — a violência contra a favela, contra comunidades indígenas — essas questões não são novas. Quando a gente percebe isso e tensiona essas coisas, o ouvir e o agir não estão dissociados”, refletiu Seu João sobre a fala de Alexandre.

“Vamos lembrar Sá Maria, que representa muitas mulheres negras”, conclamou Eliane Marques ao final da mesa. Sá Maria foi uma mulher negra, babá do pequeno Carlos Drummond de Andrade. Na sequência, Calila das Mercês concluiu: “Esse desejo de continuar é algo que ninguém deveria tirar da gente.”

Por fim, Alexandre Coimbra saudou Antônio Bispo dos Santos: “Para terminar, eu quero lembrar Antônio Bispo dos Santos, um dos maiores pensadores desse país, que nos lembra que, para nos reumanizarmos, que tal trocar tanto desenvolvimento por um pouco mais de envolvimento? Que nós possamos nos envolver com essas questões que foram colocadas aqui, porque elas nos pertencem.”

Sobre o 5.º Flitabira

O 5.º Flitabira é patrocinado pela Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Prefeitura de Itabira. Com uma programação extensa, para todos os públicos e idades, o 5.º Flitabira promove debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para crianças, prêmio de redação, apresentações musicais e teatrais e oficinas, tudo ao redor de uma imensa e linda livraria. Criou também o “Flitabira da Gente”, dedicado aos empreendedores locais.

Serviço

5.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira

De 29 de outubro a 2 de novembro, quarta-feira a domingo

Entrada gratuita

Local: Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e avenida lateral.

Toda a programação é transmitida online pelo Youtube @flitabira

Informações para a imprensa

imprensa@flitabira.com.br

Jozane Faleiro – 31 99204-6367

Laura Rossetti – 31 99277-3238

Letícia Finamore – 31 98252-2002