por Gabriel Pinheiro
A homenageada do Festival Literário Internacional de Itabira – 4.º Flitabira –, a escritora Miriam Leitão, conversou com a jornalista Flávia Oliveira nesta tarde de sábado, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. A conversa celebrou a ancestralidade e trouxe uma reflexão sobre a urgência para a restauração da amazônia.
Sendo 2 de novembro, Dia de Finados, Flávia Oliveira começou a conversa trazendo o tema da morte para a conversa e compartilhou com o público o olhar para a morte pela perspectiva do candomblé. “Convido, a partir dessa reflexão iorubá, que a gente repense em ciclos de morte, de renascimento, de restituição, de vitalidade.” Na sequência, Miriam Leitão trouxe uma reflexão da morte a partir da perspectiva cristã. A escritora compartilhou com o público o luto que vive hoje, homenageando a irmã, Elizabeth Leitão. “Vocês devem estar se perguntando o que a gente está fazendo aqui, falando de morte, de luto…”, brincou a escritora. “É a vida. O poeta [Drummond] já nos ensinou: ‘Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão’. Os nossos amados que já se foram vivem em nós.”
Flávia Oliveira pediu para Miriam compartilhar sua experiência de trabalho na questão ambiental, especialmente com relação à amazônia, à luz de seu livro mais recente “Amazônia na encruzilhada”, onde Leitão traça um retrato da situação da amazônia e mostra que é possível e desejável que haja uma conciliação entre a questão ambiental e a área econômica. “A amazônia é tão imensa, mas é tão frágil. Na amazônia se trava uma luta pelo planeta, entre vida e morte” destacou a escritora. “Esse livro fala da reconstrução. A restauração da amazônia ainda é possível nas áreas destruídas. Ainda é possível lutar. Aqueles que lutam pela vida da amazônia estão precisando de reforços.”
Miriam Leitão pediu para Flávia Oliveira compartilhar com o público a história de sua mãe. “Minha mãe sempre sonhou com a educação e eu acabei sendo a projeção da escolarização que ela não pôde ter. (…) Ela foi muito severa, me pressionava muito a estudar. Eu sou fruto de uma educação pública e gratuita.” Flávia celebrou sua ancestralidade: “É uma história de linhagem feminina pela oralidade. A comunicação entra na minha vida pela transmissão de conhecimento e histórias pelas vozes de mulheres negras”.
A homenageada lembrou do trabalho realizado por ela e por Flávia na defesa das cotas raciais nas universidades brasileiras. “As linhas editoriais da maioria dos jornais eram contra as cotas. (…) A partir das cotas, o Brasil ficou tão mais interessante. O Brasil ficou a cara do Brasil, cada vez mais, a cara do Brasil.”
No fim da conversa, Flavia Oliveira refletiu sobre a experiência de Miriam na Ditadura Militar: “Eu queria que esses nossos minutos finais fossem dedicados a esse seu compromisso com a vida, com a democracia, do acesso aos direitos”. Miriam, então, fez um relato emocionante: “Eu poderia ter morrido. (…) Eu passei muitos anos sem falar disso, até o dia em que eu entendi que falar disso é importante, principalmente porque a democracia está sob ataque. Quando a gente fala dessa dor, eu entendi que eu também tinha que falar por aqueles que nunca voltaram. Eu entendi que não estava me colocando como vítima, mas como testemunha. Fui testemunha, no meu próprio corpo, que a tortura existiu”.
Miriam encerrou a conversa prestando nova homenagem à irmã e sua importância no cuidado com o sobrinho, filho de Miriam, durante a ditadura: “Minha irmã, se eu não voltar, cria meu filho”.
Sobre o Instituto Cultural Vale
O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org
Sobre o Flitabira
A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.
Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4.º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.
Serviço:
4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira
De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
imprensa@flitabira.com.br
Jozane Faleiro – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002