por Gabriel Pinheiro

 

Um teatro totalmente ocupado pelo público recebeu calorosamente os três escritores para uma conversa que mergulhou nas muitas possibilidades do fazer literário

 

Fechando a programação deste segundo dia de Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira –, um teatro lotado recebeu os escritores Itamar Vieira Junior, Conceição Evaristo e Ricardo Ramos Filho, uma conclusão mais do que especial para um dia de programação intensa, em que a literatura foi a grande homenageada, especialmente na figura de um de seus maiores representantes na história brasileira, o poeta desta terra, Itabira, e aniversariante de hoje, Carlos Drummond de Andrade.

 

Ricardo Ramos Filho trouxe o amor como primeiro tema da conversa. Itamar Vieira Junior discursou sobre o amor a partir de seu próprio trabalho. “Talvez tudo aquilo que eu tenha escrito até o momento seja atravessado por esse sentimento, pelo amor. A gente pensa muito no amor romântico, mas penso também num olhar para o amor de maneira mais ampla.” Ricardo acrescentou: “Seu próprio romance, ‘Torto arado’, é uma declaração de amor à terra”. Para Itamar, “quando a gente senta para refletir sobre o mundo, sobre as mudanças que o mundo tem vivido, são atos de afeto e de amor. É impossível se levantar em defesa de qualquer coisa se você não for capaz de amar. A literatura nos traz muitas possibilidades sobre o amor”.

 

Conceição Evaristo também refletiu sobre o amor em relação à sua obra literária, resgatando personagens e situações em que o amor é o grande protagonista de suas histórias. “Há outras formas de declaração de afeto que não passam pelo discurso, mas passam pelos gestos”, declarou a escritora que também compartilhou uma história emocionante com o público: “Quando meu marido morreu, uma amiga nossa veio à minha casa e disse: ‘Vim chorar com você, Conceição. Pois quando você fica viúva, é como se nós, mulheres negras, ficássemos viúvas também’”.

 

Os autores conversaram sobre a ancestralidade na literatura. Ricardo comentou sobre a forma como o seu próprio fazer literário é conectado àqueles que o precederam. Itamar destacou a importância de se conhecer o passado. Sem conhecer o passado, não somos capazes de compreender o presente. Só poderemos projetar um futuro diferente se compreendermos o presente e tivermos algum tipo de domínio sobre o passado.” Na conclusão de sua fala, Itamar destacou: “É impossível refletir sobre o mundo hoje sem olhar de uma maneira honesta para o nosso passado.  (…) Acredito que a arte tem um poder de comunicação que nos faz encher um teatro como esse”.

 

Conceição Evaristo comentou como a ancestralidade é presente em toda a sua obra literária. “Talvez o povo negro não sobrviveria a tantas dores, a tanta desumanidade, se a gente não trouxesse a força da ancestralidade.” Ricardo Ramos Filho complementou: “De certa forma, a arma é o que a memória guarda”. Na sequência, Itamar Vieira Junior refletiu: “Como não falar de ancestralidade se tudo o que nós temos vem de algum lugar do passado? Muita coisa nos foi retirada ao longo do tempo. A ficção tem um poder maravilhoso. Essa mistura de arte e ficção nos devolve uma memória, mesmo que ficcional”.

 

Ricardo Ramos Filho perguntou aos dois colegas de mesa sobre o protagonismo de mulheres negras em suas obras. “Colocar mulheres negras como protagonistas do meu texto é um processo natural. (…) Não tenho nenhuma dúvida da importância de colocar essas mulheres negras como protagonistas. Talvez até mesmo pela minha vivência. (…) Na minha família, as mulheres eram quem davam as diretrizes”, destacou Conceição. Para Itamar, aqueles que escrevem estão sempre refletindo sobre o mundo e sobre o nosso tempo. “Eu venho de uma família onde as mulheres tinham esse protagonismo. Crescer nesse ambiente me deu uma medida da força dessas personagens.”

 

No encerramento da conversa, Ricardo retomou o tema do amor. “Vocês dois são autores muito queridos. O que representa pra vocês o amor desses leitores?” Conceição comentou sobre uma pergunta que um dia ouviu: “Quando você se tornou escritora?” No que ela respondeu: “Quando o público passou a me acolher. Quem me dá o status de escritora é quem me lê. E percebo que cada vez mais esse público tem aumentado e tem se diversificado”. Itamar refletiu: “Um livro é apenas um objeto. Claro, tem muito de nós nele. Entregamos muito de nós na escrita. Mas ele fechado, ele não é nada. A peça fundamental, assim como o autor, nessa engrenagem, é o leitor. Assim, ele ganha a vida. Ele ganha a vida no corpo de quem lê. (…) Encontrar os leitores, como aqui, nos retroalimenta para continuarmos escrevendo histórias”.

 

“A literatura nos dá essa possibilidade desse encontro humano, dessa troca de afeto”, concluiu Conceição Evaristo.

 

 

Sobre o Instituto Cultural Vale

O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org

 

Sobre o Flitabira

A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.

 

Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4.º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.

 

Serviço:

4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira

De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira

Entrada gratuita

 

Informações para a imprensa:

imprensa@flitabira.com.br

Jozane Faleiro  – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002