
por Gabriel Pinheiro
Noite também celebrou a vida e a obra de Miriam Leitão e Jeferson Tenório
Saudação de Bianca Santana aos autores homenageados Míriam Leitão e Jeferson Tenório
Bianca Santana abriu a noite celebrando os dois homenageados desta edição do Festival Literário Internacional de Itabira – 4.º Flitabira – , Miriam Leitão e Jeferson Tenório. “Ambos resistiram e resistem à censura, ao autoritarismo e à violência. Isso vocês já sabem. Por isso, escolho falar sobre uma política pública que mudou todo o Brasil. A universidade brasileira agora tem a cara do Brasil.” Assim, Bianca se debruçou sobre o papel dos dois homenageados na defesa e na escrita sobre as cotas raciais no Brasil. “Miriam Leitão foi uma heroína na defesa pública das cotas raciais. Era a única jornalista branca a defender o que era melhor para o Brasil. Primeira e única.” Na sequência, Bianca falou sobre Jeferson Tenório e seu novo romance, “De onde eles vêm”: “É evidente que o novo romance de Jeferson tem muitas nuances e tramas. Mas esse livro tem um tema principal, as cotas raciais”.
Os homenageados, então, subiram no palco do teatro. “A lei de cotas vem para que a gente consiga ter essas vozes diversas por muito tempo. Que a gente consiga formar pessoas que aceitem as diferenças, que consigam olhar para a sociedade com mais empatia”, declarou Jeferson. Logo em seguida, Miriam comentou: “Jeferson viveu na pele a censura, a incompreensão do valor de sua obra. Mas ele foi adiante. É uma honra ser homenageada ao lado dele. Quando defendi as cotas, eu sonhava com esse momento [narrado no livro de Tenório], com os cotistas entrando nas universidades. (…) As cotas foram uma frestinha que o Brasil abriu. Uma frestinha de nada. Mas ela fez tanto. É a política pública mais bem sucedida. Que alegria ver isso”.
Jeferson Tenório, Natalia Timerman e Lívia Sant’Anna Vaz
O escritor Jeferson Tenório permaneceu no palco para uma conversa com as escritoras Natalia Timerman e Lívia Sant’Anna Vaz. Lívia abriu a conversa com música, cantando em homenagem a Oxum, orixá que reina sobre as águas doces, considerada a senhora da beleza, da fertilidade, do dinheiro e da sensibilidade.
Natalia Timerman citou uma declaração da poeta Bruna Mitrano: “Quem não acredita que a literatura tem o poder de mudar o mundo é porque não quer que o mundo mude” e trouxe uma informação alarmante: o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou nota se posicionando contra a implementação de cotas nas Residências Médicas. Natália é médica e declarou “Eles não me representam”. Ela, então, pediu para os colegas refletirem sobre essa nota. “As cotas raciais são a primeira efetiva resposta do estado brasileiro depois de quatro séculos da escravização das pessoas negras”, afirmou Lívia Sant’Anna Vaz. “De fato, pensar as cotas raciais é pensar em uma dívida histórica. (…) Racismo é um sistema de opressão. Não existe racismo reverso”, acrescentou Vaz. “As cotas devem ser vistas como um direito que o estado brasieiro deve à população negra há séculos. (…) fui o primeiro cotista a me formar na UFRS em 2010”, destacou Jeferson Tenório. “A casa grande sempre teve medo da revolta. Ela nunca dormiu tranquila. Esse medo da revolta faz com que haja documentos como esse do CFM. As cotas não são privilégio, as cotas são um direito”, acrescentou.
“Vocês consideram que a escrita de vocês é uma restituição de um poder em forma de voz?”, perguntou Natalia Timerman para os colegas. “A gente tem de ser ativista, se não a gente não sobrevive. Não basta pra gente, pessoas negras e indígenas, os critérios que a branquitude nos coloca. (…) É sobre vozes do passado e do presente também que falamos. As pessoas negras do Brasil são sempre objeto de conhecimento de pesquisa, de estudo… nunca são sujeitos de conhecimento. A nossa literatura tem de ter esse cuidado. Valorizar a dignidade dessas pessoas, a voz dessas pessoas. Essas pessoas sempre estiveram urrando, mas não eram escutadas”, refletiu Lívia. Para responder à pergunta, Jeferson fez a leitura de um trecho do romance “De onde eles vêm”: “A nossa escrita vem de quem está próximo, vem dos mais velhos, vem do reconhecimento daqueles que vieram antes. Da amorosidade que se dá”.
Refletindo sobre o Dia de Finados, Natalia perguntou: “Como os seus mortos estão presentes na escrita e na vida de vocês?” Para Lívia, isso tem uma relação forte com sua ancestralidade, um dos temas do Flitabira. Em seguida, ela entoou versos do “Canto das três raças” de Clara Nunes, sendo acompanhada por todo o público, que cantou junto. “Eu busco força para moer essas dores e transformar em justiça, de alguma maneira”, concluiu.
“Muito tem se falado que escritas de si tem algo de narcisista. Mas me intriga que, quando só homens brancos cis escreviam sobre si, isso não era crticiado. E agora quando pessoas negras têm escrito em primeira pessoa, essas escritas sejam criticadas” declarou Natalia Timerman no fim da conversa. “O racismo tem um viés de muita perversidade. Há um incómodo da branquitude em deixar de ser o centro. Há um desejo de aniquilação”, acrescentou Lívia.
Sobre o Instituto Cultural Vale
O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org
Sobre o Flitabira
A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.
Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4.º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.
Serviço:
4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira
De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
imprensa@flitabira.com.br
Jozane Faleiro – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002