por Gabriel Pinheiro

 

 

O curador do 4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – Sérgio Abranches, recebeu as autoras Calila das Mercês e Natalia Timerman para uma conversa sobre as muitas possibilidades do fazer literário. Abranches destacou as diferenças entre os trabalhos dos três, numa conversa que revelou as muitas influências de cada um.

 

Sérgio Abranches deu início à conversa perguntando para as convidadas como foi o início de suas respectivas carreiras na literatura. Natalia Timerman comentou: “Sou médica. Quando comecei a escrever, não gostava que essas duas coisas se misturassem, a medicina e a escrita. A medicina foi um desvio no meu desejo de ser escritora. (…) Eu começo a escrever depois da maternidade, depois do meu primeiro filho nascer”. Sobre a medicina e a escrita, ela acrescentou: “Não consigo negar a relação entre as duas coisas, afinal, meu primeiro livro é escrito a partir da minha experiência como médica”.

 

“Sempre digo que minhas primeiras escolas são o sertão e o Recôncavo Baiano. Foi ali que comecei a ouvir histórias. Esses lugares me ajudam a começar a escrever. Os terreiros das minhas avós eram cheios de histórias e cheios de silêncios. Escrever nunca foi necessariamente um sonho pra mim, ele veio como uma força, uma necessidade de expor essas narrativas que precisam ser contadas”, explicou Calila das Mercês sobre seu trajeto até a literatura.

 

Na sequência, a pergunta retornou para Sérgio, que comentou que, desde sempre, teve o desejo de ser escritor.Quando escrevo ficção é porque não consigo falar sobre essas coisas na não ficção, no meu trabalho ensaístico.”

 

“Quais são as árvores da vida de vocês, da história de vocês?”, perguntou Calila para o público, tendo como base seu primeiro livro, “Planta-oração”, em que diferentes árvores são protagonistas de seus contos”. Natalia complementou: “Os seus contos vão formando uma grande árvore. É muito bonito isso”.

 

Tanto Sérgio quanto Calila destacaram a importância de Carlos Drummond de Andrade no início de suas relações com a literatura.A poética pra mim começa com Drummond”, frisou Sérgio. O autor também apontou a importância de Guimarães Rosa: “Com ele entendi que eu amava os rios”.

 

Abranches comentou sobre a recepção dos livros com os leitores. “A gente não escreve, na ficção, sobre tal coisa. O leitor é que fará as suas próprias conexões. O livro deixa de ser seu. Ele é dos outros”. Calila complementou: “Eu lembro de Conceição Evaristo que fala sobre essa confusão, da fusão entre a memória e a ficção”, apontando o interesse dos leitores, quando conhecem os escritores, em encontrar as relações entre suas vidas e as obras que escreveram. “Esse meu trabalho de criar personagens tem um interesse em trabalhar com essas pessoas que não existiam na literatura antes.”

 

Calila das Mercês revelou que tem um livro de poesia que deve ser lançado no próximo ano. Este livro traz esses poemas que escrevo desde que comecei a experimentar.” Além desse volume, há outro projeto maior, mas ela disse que vai esperar mais para revelar detalhes. Natalia Timerman também falou sobre o seu novo projeto, um livro sobre o Alzheimer da mãe: “É um livro que é sobre Alzheimer, sobre memória e também a minha relação com a literatura”. Sérgio comentou sobre sua nova ficção que pretende abordar a violência contra as mulheres, além de um novo ensaio chamado “Terceira margem do Ipiranga”, que abordará a relação entre a nação, o seu povo e a democracia.

 

Na conclusão da conversa, Sérgio questionou as convidadas sobre suas diferenças no que diz respeito à ancestralidade. “A minha ancestralidade é algo que me mantém de pé. O fato de eu ser uma mulher negra, filha de pessoas do interior do nordeste. (..) Isso foi algo que fez com que a literatura se abrisse como uma possibilidade inventiva pra mim. Tem uma outra coisa da minha ancestralidade: esse cruzamento do individual com o coletivo. (…) Esse coletivo é o que nos habita, o que nos dá nome e sobrenome. Esse percurso da ancestralidade extrapola o consanguíneo ”, apontou Calila. “Eu sou grata a essa ancestralidade que habita em mim”, acrescentou a autora.

 

“Em meu último livro, conto sobre essa minha descoberta enquanto judia. Nessa investigação, de entender o que significava ser judia, percebi o quanto o meu ser judia no Brasil era muito parecido com o que outras comunidades que vieram para o Brasil fugindo de guerras – mas muito diferente da experiência das pessoas negras e do racismo contra essas pessoas. Foi a partir da morte do meu pai que  pude olhar para tudo isso”, concluiu Natalia.

 

Sobre o Instituto Cultural Vale

O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org

 

Sobre o Flitabira

A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.

 

Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4.º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.

 

Serviço:

4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira

De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira

Entrada gratuita

 

Informações para a imprensa:

imprensa@flitabira.com.br

Jozane Faleiro  – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002