por Adalmo
Autoras trocaram no 4.º Flitabira possíveis respostas aos traumas que vivenciaram
Bianca Santana, autora de “Quando me descobri negra”, abriu a mesa desta tarde de sexta reconhecendo que todas as escritoras presentes eram “mulheres que escrevem sobre mulheres”. Após propor uma conversa mais fluida, ela pediu que cada uma delas contasse um pouco sobre a própria obra.
Érica Toledo começou sua trajetória no jornalismo, passou pela vivência da psicanálise no consultório e atualmente pesquisa o aspecto étnico da violência contra a mulher, à medida que realiza a retomada de sua identidade indígena junto ao povo Puri. Suas oficinas terapêuticas baseadas em psicanálise e dança com vítimas de estupro em um campo de refugiados no Malawi a ajudaram a notar que “num ambiente tão violento a gente acaba perdendo o erótico”. Ao comparar as experiências de brasileiras com aquelas das mulheres de África, ela concluiu que “tem algo da nossa racionalidade ocidental que desprotege a nossa saúde mental”, indicando uma “desconexão com o corpo e com a afetividade”.
Quando chegou a vez de Lívia Sant’Anna se apresentar, ela declarou que o que a move “é o amor pela descoberta, pela autodescoberta na verdade”. A jurista destacou o recorte racial na conversa sobre a violência contra a mulher e, citando uma fala de Itamar Vieira Júnior no 4.º Flitabira, ela reiterou que “não é para reviver essas dores que a gente fala delas, mas para as compreender”. Em seguida, citou seu livro “A Justiça é uma mulher negra”, em que defende que “dentro de um sistema de justiça que é tão branco e tão masculino”, é preciso buscar estratégias para que “a justiça seja outra concepção que a gente pense coletivamente”. Ao fim de sua primeira fala, relembrou emocionada de Marielle Franco e de seu violento assassinato.
Bianca, por sua vez, complementou a fala de Lívia e revelou que, para ela, “após o julgamento e a condenação dos assassinos de Marielle Franco, tem algo muito indigesto, pois justiça seria Marielle estar aqui nesta mesa com a gente”. Além disso, afirmou que é preciso “transformar essa raiva em possibilidade de luta e transformação”, num país que “negligencia, ignora o fato de que a cada doze minutos morre uma pessoa negra em seu território”.
A partir desse ponto, a conversa foi direcionada para o tema do cuidado e das dificuldades encontradas frente ao diálogo de tópicos difíceis com crianças, especialmente com seus próprios filhos. Bianca brincou que segue “um método que não é científico nem pedagógico” e se resume em “falar com elas tendo a noção de que não são adultas, mas as respondendo e sabendo que elas vão compreender da forma como conseguirem”. Lívia apoiou a proposta de Santana, de “conseguir conversar com sinceridade” e, após contar alguns de seus casos, finalizou sua fala dizendo que, nesse desafio, “a gente vai aprendendo com as crianças também”.
Por fim, o autocuidado e o autoamor foram reverenciados, e Érica frisou que “algo é violento quando nos objetifica, a gente está machucada quando estamos no lugar de objeto. Então quando a gente está aqui falando da dor, mas do lugar de sujeito, então a gente está se curando dessa dor”. Também responsável pela última fala do encontro, ela leu o poema “Canção amiga”, de Carlos Drummond de Andrade, que se encerra tal qual a conversa das três autoras: “Eu preparo uma canção / Que faça acordar os homens / E adormecer as crianças”.
Sobre o Instituto Cultural Vale
O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org
Sobre o Flitabira
A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.
Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4º. Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.
Serviço:
4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira
De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
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Jozane Faleiro – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002