
Por Gabriel Pinheiro
Discursos potentes e poéticos marcaram o encontro entre Teresa Cárdenas, Cláudia Flor D’Maria, Marcelino Freire e Matheus Leitão
“Queria abrir essa mesa lembrando do mais importante desse festival, o Prêmio de Redação”, comentou Matheus Leitão logo na abertura da mesa “A escrita e o tempo da memória”. Segundo ele, os jovens premiados hoje “nos mostram que a literatura é esperança e se renova”. Matheus, mediador, se reuniu com o autor Marcelino Freire e as autoras Teresa Cárdenas e Cláudia Flor D’Maria.
“Como é pra você lidar com uma memória que foi arrancada e precisa ser reinventada pela escrita?”, ele perguntou à escritora cubana Teresa Cárdenas. “Hoje eu estava pensando nessa mesa e no que significa a memória pra mim, na minha literatura. Sinto que a memória é essa força que me arrasta para a literatura”, refletiu a convidada internacional. “Graças a isso me reconheci negra, as palavras brotaram em mim. Eu era uma menina muito calada. (…) Mas a memória coletiva, essa memória linda, me fez essa mulher que sou agora.” Teresa disse que foi muito lindo ver as meninas e os meninos do Prêmio de Redação e Desenho e como as palavras também brotaram deles. A escritora, então, leu para o público um poema de sua autoria, dedicado às mulheres de sua família.
Matheus Leitão leu um trecho do último romance de Marcelino Freire, “Escalavra”. Segundo ele, esse trecho dizia muito bem da emoção que foi compartilhada no Prêmio de Redação e Desenho. Marcelino Freire comentou sobre a emoção acumulada ao longo dos dias vividos no festival literário. “Escrever é, de alguma forma, organizar sentimentos perdidos”, comentou o autor. “A técnica da escrita é uma técnica da sobrevivência desses sentimentos. A gente não sabe muito bem como essas palavras são convocadas. Elas começam a nos ajudar e a nos socorrer. (…) Quando a gente está falando, é uma luta com aquela palavra.”
“Escrevo por dois motivos. Escrevo para me vingar e escrevo para dar a vida para as pessoas que já me deixaram”, Marcelino declarou, relembrando a voz da mãe, num momento emocionante.
O mediador pediu para que Rosa falasse sobre seu povo. “Sou do povo Itaquera. É um povo que não está catalogado nos povos indígenas”, declarou. “Nós não andamos sós. Quando eu sou chamada pelos meus ancestrais para um processo de retomada do meu povo, eu venho para trazer o refluir.”
“O povo Itaquera sobreviveu ao genocídio, ao massacre da colonização. Nós estamos vivos dentro da Amazônia, dentro do território das terras marajoaras. (…) Junto do meu povo virão à tona também outros povos indígenas que estão esquecidos e silenciados. Sei que a minha missão é muito grande e difícil. Mas não é só minha — são de nações indígenas que estão adormecidas dentro da Amazônia”, a escritora indígena compartilhou num discurso potente. “A retomada é ancestral. Ela já não é porvir. Ela está entre nós. (…) Ainda há esperança, sim. E é ela que me move no processo de reconhecimento do meu povo.”
Teresa Cárdenas falou sobre um dos seus livros mais conhecidos, “Cachorro velho”. “Foi um livro em que consegui fazer um exorcismo de certos assuntos. (…) Nele aparecem personagens negras como protagonistas. Cada personagem desse livro é reflexo das pessoas da minha família”, ela comentou. “Estar aqui na Flitabira por minha escrita. Viajar o mundo por minha escrita. Eu não sei fazer outra coisa. Eu só sei fazer histórias.”
Matheus Leitão disse achar muito bonita a forma como Marcelino diz que a coisa que mais sente falta é da voz de sua mãe. Ele, então, celebrou a presença da sua mãe, Miriam Leitão, na plateia. Marcelino, em seguida, mergulhou em lembranças familiares. “Quando estou escrevendo um texto, tenho que encontrar essa energia, essa junção de vozes”, destacou. “Procure as forças invisíveis, as pontes invisíveis do seu texto. Quando estou escrevendo, busco essa reza, essa ladainha da minha mãe.”
“Olha só, não baixa a cabeça, porque se tu deixares a cabeça, eles irão te degolar. Olha só, presta atenção, tu não andas só”, conclamou Cláudia ao fim da conversa.
Sobre o 5.º Flitabira
O 5.º Flitabira é patrocinado pela Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Prefeitura de Itabira. Com uma programação extensa, para todos os públicos e idades, o 5.º Flitabira promove debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para crianças, prêmio de redação e desenho, apresentações musicais e teatrais e oficinas, tudo ao redor de uma imensa e linda livraria. Criou também o “Flitabira da Gente”, dedicado aos empreendedores locais.
Serviço
5.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira
De 29 de outubro a 2 de novembro, quarta-feira a domingo
Entrada gratuita
Local: Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e avenida lateral.
Toda a programação é transmitida on-line pelo Youtube @flitabira
Informações para a imprensa
imprensa@flitabira.com.br
Jozane Faleiro – 31 99204-6367
Laura Rossetti – 31 99277-3238
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