Por Gabriel Pinheiro

Mesa reuniu Ana Maria Machado, Lavínia Rocha e Leo Cunha para uma conversa com professores e alunos de 15 a 17 anos

Na manhã desta sexta-feira, 31 de outubro, aniversário de Carlos Drummond de Andrade, o 5.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira recebeu uma conversa voltada para o público juvenil da comunidade escolar da cidade – jovens entre 15 e 17 anos. Leo Cunha, Lavínia Rocha e Ana Maria Machado se reuniram sob o tema “A literatura para jovens na encruzilhada da censura”.

Olhando para os jovens da plateia, Leo Cunha perguntou: “O que é que deixam a gente ler? O que não deixam? O que proíbem a gente de ler?” A seguir, direcionou para as convidadas: “De alguma forma, a censura já afetou o trabalho de vocês?

Ana Maria Machado falou sobre a censura sofrida desde a infância, no comportamento. “Isso não é coisa de uma menina dizer”, citou. “Ao longo da minha vida de escritora, em vários níveis, eu escrevi e enfrentei essas questões. (…) A pior censura é aquela que diz que você tem que falar isso, é a censura do sim, que nos obriga a dizer o que a gente não quer.

Eu sou professora de história. Então daí você já tira vários casos de censura ao longo da vida”, declarou Lavínia no início de sua fala. “Quando eu estava no processo de identidade racial, isso afetou a literatura. Entender quem eu sou afetou minha vontade de fazer literatura”, prosseguiu. A autora discutiu a frase ouvida por professores e autores em diferentes situações: “Se o assunto é espinhoso, cuidado com o que você vai falar.”

Trabalhar o legado africano no Brasil é falar de assuntos sensíveis, espinhosos”, debateu Lavínia, falando sobre a experiência de trabalhar as religiões de matriz africana em sala de aula. “O que mais dói é quando a gente começa a praticar a autocensura”, prosseguiu. “A censura pode estar em toda parte. A gente tem que estar atenta a ela”, reforçou Ana Maria Machado.

Rocha comentou como o trabalho do professor é também um trabalho de curadoria, ao pensar e escolher o que os alunos irão ler. “É importante que os alunos também leiam aquilo que não querem, para descobrir novas literaturas”, observou. Ela relembrou sua experiência, enquanto aluna, lendo em sala de aula: “Tem outra questão que é a formação do professor. Como você vai exigir tudo do professor? (…) Não tem como cobrar tudo desse professor, a não ser que você ofereça possibilidades. Como a formação continuada dentro do horário de trabalho. Formar professores é um trabalho.”

A visão crítica a partir da leitura é absolutamente fundamental”, seguiu Ana Maria Machado. “O mundo é dinâmico, a sociedade é dinâmica e nós somos responsáveis pela mudança futura. (…) Tudo isso tem a ver com a formação de um professor-leitor.

Leo Cunha relembrou um caso de censura sofrida, numa cidade do interior de São Paulo, por conta da presença de dois palavrões em uma narrativa voltada para adolescentes. “A resolução da história passa pelos palavrões, aquilo resolve a história”, comentou sobre a presença dos termos, completamente justificável na narrativa.

As autoras também relembraram casos de censura semelhantes sofridas em seus próprios escritos. “Além da censura da ignorância, ainda há a censura econômica”, destacou Ana, referindo-se ao mercado editorial, que pode evitar livros que enfrentarão algum tipo de resistência. “Eu tenho uma coleção de proibições. Se eu começar a contar, acaba o Flitabira e eu ainda não acabei de contar.

Levar temas LGBT+ para a sala de aula ainda é um tabu”, comentou Lavínia, sobre um de seus livros não ter sido adotado por programas de incentivo à leitura. A autora também relembrou uma censura sofrida pelo uso de referências às religiões de matriz africana em um texto.

Uma professora da plateia perguntou à mesa: “Vocês pensam naquilo que podem dizer e o que não dizer durante a escrita?”. “A gente tem que escrever completamente livre”, defendeu Ana Maria Machado, olhando para a censura como a negação da literatura.

Sobre o 5.º Flitabira

O 5.º Flitabira é patrocinado pela Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Prefeitura de Itabira. Com uma programação extensa, para todos os públicos e idades, o 5.º Flitabira promove debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para crianças, prêmio de redação, apresentações musicais e teatrais e oficinas, tudo ao redor de uma imensa e linda livraria. Criou também o “Flitabira da Gente”, dedicado aos empreendedores locais.

Serviço

5.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira

De 29 de outubro a 2 de novembro, quarta-feira a domingo

Entrada gratuita

Local: Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e avenida lateral.

Toda a programação é transmitida online pelo Youtube @flitabira

Informações para a imprensa

imprensa@flitabira.com.br

Jozane Faleiro – 31 99204-6367

Laura Rossetti – 31 99277-3238

Letícia Finamore – 31 98252-2002