por Gabriel Pinheiro
Temas importantes tanto para o fazer literário quanto para a própria vida em sociedade marcaram a conversa, com discursos contundentes de seus participantes
Neste sábado de Festival Literário Internacional de Itabira – 4.º Flitabira – o teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade recebeu os escritores Marta Porto, Airton Souza e Carlos Starling, numa conversa que lidou com temas como a brutalidade, o amor e o medo – dentro e fora da literatura.
Marta Porto destacou o olhar presente nos trabalhos de Airton Souza e Carlos Starling acerca da brutalidade na história brasileira. Uma brutalidade sofrida especialmente por populações vulneráveis. Enquanto, em seus livros mais recentes, Airton escreveu sobre a história de Serra Pelada, Starling olhou para o período pandêmico.
Airton Souza compartilhou uma fala contundente e muito sensível. “Venho de uma situação de pobreza. Encontrei na literatura e no ensino público uma possibilidade de ver a minha vida transformada. Uma forma de ter dignidade na vida. Como forma de retribuir à literatura e à escola pública, fui escrever sobre a minha terra.” Airton compartilhou com o público que o enredo de seu romance “Outono de carne estranha” foi gestada por muitos anos, partindo das histórias familiares que constituem a própria genealogia familiar do autor. “Estou contando uma história que esse país fez questão de apagar, de esconder e de silenciar”, concluiu.
Falando sobre seu livro, “O tempo sem tempo”, Carlos Starling também trouxe uma fala pungente: “Nós estamos num país muito violento. Todos nós somos vítimas dessa violência. (…) Na pandemia, vimos uma das maiores violências que uma população pode sofrer. A pandemia mostrou pra gente o lado mais brutal de uma corrente política terrível. Nós não somos um país pacífico. Um país extremamente injusto. Nós vivemos uma epidemia sem fim”.
O afeto e o amor que resiste foi destacado por Marta Porto na obra de Airton Souza. “A única coisa que resta pra nós que viemos da lama é a possibilidade do amor. Nós tivemos quase tudo negado. A negação da própria vida”, pontuou o escritor. Airton se emocionou ao falar sobre a história de sua família e sobre o amor que resiste em seu romance. “Eu tinha que contar essa história com o viés do amor como uma forma de resistência. É uma resistência ao horror.” Retomando a história de sua família, ele concluiu: “O amor nos manteve na condição de seres humanos”.
“O amor é absolutamente necessário na nossa existência. Esse livro não é sobre a pandemia, mas traz crônicas escritas naquele período”, comentou Carlos Starling sobre a sua visão do amor e a maneira como ele impulsiona seu trabalho literário. Após a leitura de um trecho de uma das crônicas do volume, ele concluiu: “Mesmo no pior momento nós temos que nos agarrar ao amor. É por isso que esse livro saiu”.
Marta Porto trouxe outro tema importante: o medo e o modo como ele pode ser paralisante em nossa existência. Para Airton, “o medo é algo muito paradoxal. De onde eu vim, o medo, de certa forma, foi um sistema de proteção”. Pensando no medo e o mercado literário, o escritor destacou, ainda, o medo existente com relação a narrativas escritas por aqueles que, segundo certo status quo, não deveriam ter a possibilidade de contar as próprias histórias. “As pessoas lucram com esse silenciamento, com esse apagamento.” O medo foi um sentimento muito presente na pandemia, pontuou Starling. “O medo é uma estratégia de poder. As pessoas tiveram medo pois foi uma coisa completamente terrível. (…) A coragem é a forma de enfrentarmos o medo que nos permeia todos os dias.”
Sobre o Instituto Cultural Vale
O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org
Sobre o Flitabira
A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.
Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4.º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.
Serviço:
4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira
De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
imprensa@flitabira.com.br
Jozane Faleiro – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002