O poema é “Autoretrato”, de autoria de pintor Candido Portinari
O legado da obra do pintor Candido Portinari foi o tema da mesa “A noite dissolve os homens”, que aconteceu no início da noite desta quinta-feira, 2 de novembro. Maria Edina Portinari fez as apresentações dos participantes. “O trabalho desses dois sempre foi um ping-pong maravilhoso”, declarou ao apresentar o marido João Candido Portinari, filho do pintor, e o renomado curador Marcello Dantas.
“Eu acho que essa longa relação, minha com o João, é interessante porque produz uma fricção entre memória e a capacidade de fazer com que ela continue produzindo evidências. A obra de um artista não se resume ao que foi realizado no tempo de vida dele, mas continua produzindo impacto e novas inter relações associadas a documentos, depoimentos, formas de interpretação e capacidade de análise a partir de alguma espécie de inteligência e tecnologia”, declarou Dantas ao abrir os trabalhos.
A conversa deles com o público girou em torno do trabalho desenvolvido por eles no Projeto Portinari. Marcello Dantas reforçou que a ideia é produzir um acervo que torna a obra dele tangível e interpretável. “É uma tentativa de transformar essa base de informações em uma coisa nova. Esse toque de que a gente pode continuar mantendo a chama do processo mental de um artista, legítimo, e tornar isso trabalhável. Assim, a memória perde o sentido nostálgico e ganha a capacidade de olhar para frente”.
Com sua extrema gentileza e simpatia, João Candido Portinari falou da capacidade visionária de Marcello Dantas no uso das tecnologias. “Eu venho da área de exatas e, quando comecei o projeto, tentei chegar mais perto desse universo da arte e da cultural. E quem me inspirou foi o poeta senegalês Mamadou Mou que escreveu em 1978, ‘a reivindicação da identidade cultural, um dos elementos mais característicos de nossa época, não é o apego vão e nostálgico a um passado já superado, mas – sim – mobilizar esse passado como um fermento para o futuro”. Sempre imaginei o projeto Portinari assim. Ele propõe uma arte profundamente comprometida com o humano e o social. Também nos propõe os valores em que meu pai acreditava: não violência, fraternidade, espírito comunitário, justiça social, respeito à vida”.
Engenheiro matemático, João Candido destacou que a prioridade do projeto são as crianças e os jovens por meio de experiências para as novas gerações. Por isso, a criação de dois sites, gratuitos, que oferecem 5 mil obras e 30 mil documentos ligados ao artista. Um deles é o Portal Portinari e o outro é o docpro. Ele contou e demonstrou ao vivo como é possível fazer todo tipo de busca para acessar tudo que gira em torno da obra do seu pai.
Visivelmente feliz e emocionado, João Candido contou ainda sobre o desejo de resgatar a memória do pai fazendo o catálogo da obra completa dele. “Levamos 25 anos para fazê-lo. Eu não imaginava estar vivo quando ficasse pronto”. E frisou que o projeto foi criado para dar às novas gerações o acesso ao legado do Portinari. “O objetivo é localizar, documentar, catalogar, pesquisar e democratizar sua obra, já que 95% dela está em coleções particulares. É um paradoxo que um homem que pintou a vida toda, emocionadamente, a alma, o povo e a vida brasileira esteja inacessível a esse mesmo povo para o qual ele pintou”, declarou.
Após abrir para pergunta do público, João Candido finalizou a mesa declamando uma poesia de Portinari intitulada “Autoretrato” que termina dizendo: “Todas as coisas frágeis e pobres se parecem comigo”.
SOBRE O FLITABIRA
Criado pelo jornalista Afonso Borges – que é também o idealizador do Festival Literário de Araxá (Fliaraxá) e do Sempre um Papo –, o Flitabira realizará sua terceira edição entre os dias 31 outubro e 5 de novembro de 2023, celebrando 121 anos de nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade. As atividades acontecem tanto de forma presencial, na Praça do Centenário, quanto on-line, pelo canal no YouTube do Festival.
O Flitabira tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira e União Brasileira de Escritores – UBE.
INSTITUTO CULTURAL VALE
O Instituto Cultural Vale parte do princípio de que viver a cultura possibilita às pessoas ampliarem sua visão de mundo e criarem novas perspectivas de futuro. Tem um importante papel na transformação social e busca democratizar o acesso, fomentar a arte, a cultura, o conhecimento e a difusão de diversas expressões artísticas do nosso país, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento da economia criativa. Nos anos 2020-2022, o Instituto Cultural Vale patrocinou mais de 600 projetos em mais de 24 estados e no Distrito Federal. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com visitação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org
SERVIÇO:
III Flitabira – Festival Literário Internacional de Itabira
De 31 de outubro a 5 de novembro
Local: Praça do Centenário (Rua Maj. Lage, 121 – Centro Histórico)
Informações: www.flitabira.com.br
Informações para a imprensa: info@flitabira.com.br