Na manhã desta sexta-feira, a escritora mineira Conceição Evaristo recebeu veículos para uma coletiva de imprensa no Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira. Na pauta, temas como o seu projeto literário e sua escolha como Intelectual do Ano do Troféu Juca Pato, outorgado pela União Brasileira dos Escritores – UBE. Uma frase citada algumas vezes pela escritora durante a coletiva expôs uma transformação que tanto as suas obras quanto a sua premiação são símbolos importantes: “O trem está mudando”. Conceição Evaristo participa ainda nesta sexta-feira da mesa “Certas palavras”, às 21h, ao lado de Eliana Alves Cruz e Maria Ribeiro. No sábado, ela irá conversar com a Ministra do STF Cármen Lúcia, às 21h.
Intelectual do Ano
Conceição Evaristo destacou a importância de receber o Troféu Juca Pato na terra de Carlos Drummond de Andrade – vale lembrar que o próprio Drummond foi premiado em 1982. “O trem está mudando, no sentido do reconhecimento de que a literatura tem várias faces. Eu represento, sem sombra de dúvidas, essa diversidade. Essa rota muda por conta de nossa luta, de nossos esforços”, complementou a escritora.
Perguntada sobre a questão do “Lugar de fala”, Conceição Evaristo comentou que sujeitos e comunidades antes silenciadas começaram a falar e reivindicam o seu próprio lugar de fala. “Eu, como mulher negra, por mais que me cumplicie com a luta das mulheres indígenas ou das mulheres ciganas… tem algo que eu não experiencio nessa realidade. Há um lugar que é o do outro. Lógico, todos nós temos lugar de fala. Mas o seu é diferente do meu”. A escritora também falou sobre seu último romance, “Canção para ninar menino grande”: “Em quase toda a minha obra as mulheres estão no centro da cena . Neste livro, temos um protagonista machista, um Don Juan negro. Mas, na medida em que a história se desenvolve, a gente vê a solidão do homem negro. Esse é um ponto muito importante. Esse homem precisa de afeto”.
Pensar no quilombo é pensar a ancestralidade
Ao falar da visita ao Quilombo Morro Santo Antônio (confira nossa cobertura da visita aqui), Evaristo disse ter sido um dos momentos mais significativos de sua visita à Itabira. Para ela, “Ir ao quilombo é como retomar a nossa casa. É voltar para um um solo que é nosso, por mais diferente que ele seja”. Numa tocante conclusão, ela destacou: “Estar ali foi como rever a minha mãe, a minha tia, as minhas primas. Pensar no quilombo é realmente pensar uma ancestralidade”.
A importância de iniciativas como o Flitabira
A escritora mineira celebrou iniciativas como o Flitabira e a importância de festivais literários gratuitos para a democratização da leitura no país: “Do mesmo jeito que as classe populares tem os desejo por uma boa casa, uma boa saúde, uma escola de qualidade, ela também quer acessar a literatura e outros objetos de arte “. Outro ponto de destaque na conversa, foi a mesa que realizará no sábado, às 21h, no Palco CDA, ao lado da Ministra do STF Cármen Lúcia: “Eu pressinto que vai ser um encontro muito emocionante. Vamos correr o risco de virar uma conversa de comadres. Serão experiências diferentes que irão se cruzar no palco do Flitabira”.
Mais sobre o Troféu Juca Pato
Logo na sequência da mesa entre Conceição Evaristo e Cármen Lúcia, o Flitabira será palco da entrega do Troféu Juca Pato para Conceição, pelas mãos do Presidente da UBE, Ricardo Ramos Filho. Ricardo destaca a relevância da escolha de um nome como o de Conceição Evaristo. “Entregar esse prêmio nas mãos pretas de Conceição Evaristo é a minha alegria maior. É ver o Juca Pato nas mãos de uma autora que tem um texto maravilhoso, que tem uma ação política importante. Ela se compromete com a causa dela, com os seus irmãos. Isso reveste o Prêmio de uma importância ainda maior do que ele sempre teve”.
Ricardo Ramos Filho participa nesta quinta-feira, às 15h, no Palco CDA, da mesa “No tempo da madureza”, ao lado do escritor Ricardo Prado. Na conversa, os convidados buscarão, assim como Drummond escreveu no poema que intitula o encontro, articular suas vivências e experiências individuais.