Festivais como o Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira, são ricas oportunidades para o público leitor conhecer e ter um contato próximo com aqueles autores tão admirados. E vice-versa, no encontro com o público, os autores e autoras vêem a oportunidade de observar e se emocionar com a transformações de que suas obras são capazes de realizar na vida do público leitor.
Outro feliz encontro no Flitabira se dá entre os escritores. Ao longo dos dias de programação, muitos e muitas se colocam também no lugar de leitor, aquele lugar tão especial do fã, podendo encontrar amigos e profissionais admirados, trocar figurinhas e compartilhar suas experiências de leitura.
Para o escritor Ricardo Prado, que lança no Flitabira seu monumental romance “Os primeiros”, a experiência em festivais literários é muito marcante. Segundo ele, o trabalho do escritor é muito solitário, ligado à tela do computador ou rodeado de livros para pesquisa. “Um festival como o Flitabira é muito acolhedor, é aconchegante. Ele nos dá tempo para ficar em contato com outros autores, é prolongado”. Ricardo destaca que mesmo morando na mesma cidade que vários colegas autores, o contato, às vezes, pode ser raro. “Estamos sempre dizendo, vamos marcar um café e não marcamos, não conseguimos. Aqui a gente não precisa nem marcar, né? Você vem até a Casa Flitabira e todo mundo está aqui. Acho que isso legitima a ideia de que também é uma Festa Literária.”
Outro ponto interessante que Prado destaca é a surpresa em conhecer leitores que também são autores: “Às vezes, você está conversando com uma pessoa que você acha que é um leitor, porque ele está se comportando como tal, te fazendo perguntas específicas. Só que num certo momento ele abre a bolsa, tira um livro e te dá de presente. Quer dizer, ele é um leitor, mas também é um escritor que você ainda não conhecia”. Ricardo ainda destacou as muitas emoções envolvidas durante o Flitabira: “É bonito ver as pessoas se comovendo junto, pensando junto e sonhando junto. Quantas vezes nas mesas, o público aplaude? Sempre. O público se emociona, as pessoas choram. Eu acho que é isso que batiza esse encontro. É uma festa mesmo”.
Conceição Evaristo, autora de “Canção para ninar menino grande”, considera que estar em um festival literário como o Flitabira é também uma oportunidade de se colocar no lugar do público. “Quando eu estou diante de escritores e de escritoras que eu admiro, vem sempre aquela sensação que é compartilhada com os leitores, vem aquele desejo de estar próxima… e também vem aquela inibição, aquele estado de êxtase, né? Quando estou diante de escritores e de escritoras que me seduziram por seus textos, a minha reação é igual àquela do público quando vêm ao meu encontro”.
Conceição comentou sobre a experiência de compartilhar a mesa com autores queridos: “Quando eu estava sentada perto da Eliana Alves Cruz, me emocionou tanto. E também do Jefferson Tenório, que é uma pessoa que eu admiro muito, um escritor do qual eu gosto intensamente”. A escritora mineira também relembrou do seu encontro com o escritor português Valter Hugo Mãe em uma edição do Fliaraxá: “Eu tive essa reação também, de um encontro profundo, com o Valter Hugo Mãe. Ele, que é um homem branco, um homem português. Mas eu acho que a criação poética nos coloca no lugar especial, nos dá essa possibilidade do encontro”.
O curador do Flitabira, Sérgio Abranches, autor de “O intérprete de borboletas” que prepara novo romance para lançamento em breve, destacou uma das marcas do Flitabira – e dos seus festivais irmãos, Fliaraxá e Fliparacatu: “Algo que distingue os nossos festivais de outros, é que a preocupação em manter os escritores juntos. A gente busca mantê-los no evento o máximo possível, para que passem alguns dias juntos, em diálogo. Esse contato para mim, enquanto escritor, é fundamental”.
Para Sérgio, essas interações entre escritor e público e entre escritor e escritor são essenciais. “É sempre uma troca muito rica. Você acaba conquistando escritores para ajudar você na sua própria escrita. Podemos fazer leituras dos trabalhos uns dos outros. Isso é excepcional”. A escolha de cidades do interior também influencia na experiência, acredita Abranches: “São cidades que te dão um aconchego, são muito acolhedoras. Elas também também interessam aos autores, dão vontade de que fiquem um pouco mais. Essa proximidade é muito boa”.
Texto por Gabriel Pinheiro