Uma das mesas mais aguardadas da noite de sábado (4), no Flitabira, era “Memória”. Pedro Drummond e Ricardo Ramos Filho foram convidados para compartilhar momentos e fatos dos avôs escritores Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos, e João Candido Portinari, a respeito do pai, o pintor Candido Portinari. A mesa também contaria com a presença de Paloma Jorge Amado, filha de Zélia Gatai e Jorge Amado, mas uma gripe forte a impediu de vir a Itabira.

Ricardo Ramos Filho iniciou os trabalhos lamentando a ausência de Paloma e destacando os laços afetuosos entre eles. “Paloma e Jorge, de alguma forma estão aqui presentes nessa reunião de memórias”, arrematou.

Pedro Drummond começou sua fala fazendo questão de agradecer o carinho da acolhida em Itabira e começou a remontar às lembranças vividas com o avô. “A gente pode começar pelos últimos anos de vida do Carlos. Ele ficou, obviamente, abaladíssimo pela perda da minha mãe, mas ele sempre foi uma pessoa dedicada à vida. Ele foi alguém muito disciplinado e organizado”.

Foto: Kevem Willian

O neto listou as atividades que eram executadas diariamente por ele: às 9h, café com queijo minas; depois ele se arrumava e escrevia à máquina; às 12h30, almoço, perfume de lavanda e Livraria Leonardo Da Vinci, onde se encontrava com os amigos. Ao fim da tarde, um cafezinho e jantar às 19h30. De noite, Drummond ia para o escritório para recortar jornais que guardava para ter assunto para as crônicas. “Era uma pessoa muito metódica e se sentia bem com isso. Achava que essa rotina lhe dava uma certa segurança”, comentou.

Surpreendendo ao público, Pedro também revelou que a avó, Dona Dolores, viajava com muita frequência e que Drummond aproveitava para dar suas escapulidas. “Acho que todo mundo já sabe que Carlos tinha uma namorada além da vovó, durante muitos anos. Ele falava que tinha mais de 100 anos de casado, somando os dois relacionamentos”, revelou.

Pedro Drummond fotografado por Kevem Willian

Amizade antiga

O neto de Graciliano Ramos mostrou à plateia uma foto, datada de 1942, de um almoço em comemoração aos 50 anos do escritor. Na imagem, além dos autores lembrados nesse encontro, é possível ver José Lins do Rego, Manuel Bandeira, Ministro Capanema, entre outros. 

Ricardo Ramos Filho detalha que não conheceu o avô, a não ser por meio dos relatos da avó Heloísa que falava dele como se ele fosse um super-herói. “Eu fui ler as obras dele muito tarde, pois meu pai achava que a gente não fosse gostar de Graciliano se o lêssemos muito cedo. E, aos 16 anos, li “Vidas Secas”. Aquilo, para mim, foi um alumbramento. Aquele amor infantil que eu tinha por um avô que eu não conhecia se transformou em uma reverência literária”, relembrou.

Ricardo Ramos Filho fotografado por Kevem Willian

Portinari aproveitou para revelar o quão amigos os escritores eram de seu pai. “Portinari e Graciliano eram íntimos, se tratavam por apelidos: “Candinho” e “Velho Graça”. Eles tinham uma convivência extraordinária. Minha mãe promovia umas macarronadas em nossa casa que não tinham hora para acabar. Então, as pessoas iam chegando… Drummond, Jorge Amado, Murilo Mendes, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Villa-Lobos, Murilo Rubião, Cecília Meireles, entre outros. Eles discutiam arte, política, cultura, o Brasil e o mundo”. 

João Candido fala que é muito vivo na lembrança dele que não fazia a menor ideia da importância do pai ou daquelas pessoas. “Eu me transformei no típico garoto de praia, de Copacabana. Então, aquela gente que frequentava a minha casa não era ninguém para mim. Um dia, chego em casa, dou uma espiada e vejo um cara  no fundo da varanda com o meu violão. Eu reclamei com minha mãe que ele iria desafinar o instrumento. E ela me disse: ‘fica quieto, filho. É o Villa-Lobos’.”

João Candido Portinari fotografado por Kevem Willian

Ao fim da mesa, visivelmente alegres, João, Ricardo e Pedro agradeceram a presença e atenção da plateia durante o compartilhar de memórias.

SOBRE O FLITABIRA

Criado pelo jornalista Afonso Borges – que é também o idealizador do Festival Literário de Araxá (Fliaraxá) e do Sempre um Papo –, o Flitabira realiza sua terceira edição entre os dias 31 outubro e 5 de novembro de 2023, celebrando 121 anos de nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade. As atividades acontecem tanto de forma presencial, na Praça do Centenário, quanto on-line, pelo canal no YouTube do Festival.

O Flitabira tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira e União Brasileira de Escritores – UBE.

INSTITUTO CULTURAL VALE

O Instituto Cultural Vale parte do princípio de que viver a cultura possibilita às pessoas ampliarem sua visão de mundo e criarem novas perspectivas de futuro. Tem um importante papel na transformação social e busca democratizar o acesso, fomentar a arte, a cultura, o conhecimento e a difusão de diversas expressões artísticas do nosso país, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento da economia criativa. Nos anos 2020-2022, o Instituto Cultural Vale patrocinou mais de 600 projetos em mais de 24 estados e no Distrito Federal. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com visitação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org

SERVIÇO:

III Flitabira – Festival Literário Internacional de Itabira
De 31 de outubro a 5 de novembro
Local: Praça do Centenário (Rua Maj. Lage, 121 – Centro Histórico)
Informações: www.flitabira.com.br
Informações para a imprensa: info@flitabira.com.br