A palestra “O mundo é grande”, realizada no palco CDA, às 18h, nesta sexta-feira, 3 de novembro, contou com a mediação de Pedro Drummond no debate entre Raquel Cané, artista argentina, e Estevão Ribeiro, ilustrador brasileiro. O neto do poeta maior deu início à conversa dizendo da alegria do privilégio de ocupar esse papel no Flitabira. Ele contou que ambos têm em comum a criação entre letras e imagens.
Simpática, Raquel Cané respondeu que gosta de se definir como leitora. “Creio que um artista é um grande leitor de músicas, palavras, imagens, gestos e movimentos. Ler me abriu o mundo. E escutar aos outros. A poesia é contagiosa e Drummond chegou à minha vida quando eu era muito pequena, pela minha mãe. Me intrigou que ela lesse os livros dele, pois ela não lia poesia. Quando ela partiu, o que ficou foi a música dos poemas declamados”. A artista disse que para ela, o mundo grande se abriu com a música primeira, com a palavra que veio depois, a imagem na sequência.
Pedro Drummond relembrou que o Poeta Maior dizia que antes de aprender a ler, gostava da forma das letras. Algo que ele também nota no trabalho de Estevão Ribeiro. “Eu sou o sexto filho de uma família em que minhas referências foram meus irmãos mais velhos. Eles sonhavam em ser e fazer algo. Dessa herança vieram os quadrinhos, onde eu me eduquei e me alfabetizei. Em 1998, quando vi o Maurício de Souza ganhando um prêmio por fazer desenhos e pensei em fazer aquilo pelo resto da vida”, recordou o ilustrador.
Estevão Ribeiro também contou que abandonou a escola muito cedo porque achava que não precisava estudar para viver do talento dele. “Para mim, a construção através da imagem, imaginando que por meio dela você consegue contar grandes histórias, me fez produzir “Pequenos heróis”. Ele é um álbum com oito histórias desenhadas por artistas diferentes, publicado no Brasil e nos EUA, totalmente sem balões de falas que, 20 anos depois, me rendeu o mesmo prêmio entregue ao Maurício de Souza”.
Ao longo dos anos, o ilustrador também se desenvolveu em outros caminhos como roteirista e escritor. “Hoje, minhas histórias começam com as palavras. Antigamente, eram as imagens que me nutriam. A palavra me rege e daí fabrico as imagens”.
Ouvindo sobre as histórias de como ambos os artistas se aproximaram das artes, Pedro Drummond perguntou sobre como estimular as novas gerações. “Para mim, o segredo é permanecer, perseverar e ter paciência. Há um mito de que a criatividade é ter um minuto de iluminação e, nesse instante, tudo acontece. Permanecer tem um pouco de arte e artesanal. Somos canais que precisam de ser nutridos e alimentados. É preciso atravessar as dificuldades. Isso que faz durar como artista”, indicou Raquel.
Para desenhista brasileiro, a realidade de um menino que começou a fazer arte aos 14 anos era dividida entre alimentar o sonho de ser artistas e sobreviver. “Ao mesmo tempo em que eu era um carregador de engradado, eu queria ser um desenhista. E eu passei de ser um dos poucos autores negros, nos grandes eventos de quadrinhos, para eventos que tinha 500 homens como eu. As oportunidades não chegam pra gente. Mas, a gente não pode ser a exceção que comprova a regra. É por isso que eu luto”, declarou.
Raquel também falou sobre as fontes de inspiração que tem. “Me inspira muito a dança e a música. Presto mais atenção a pintores do que ilustradores, muitas vezes. Creio que minhas melhores inspirações são as pessoas. Amo ver a vida dos outros, ouvir sobre suas vidas, meus amigos, vizinhos”.
Sobre os próximos passos, Estevão Ribeiro disse que tem uma fome ancestral de ser tudo. “A gente quer viver as vidas que foram negadas aos nossos antepassados. Temos muitos sonhos represados para viver. Eu vou cumprir o máximo que eu conseguir. Quero fazer as histórias que eu não vi e que eu gostaria ter vivido”.
SOBRE O FLITABIRA
Criado pelo jornalista Afonso Borges – que é também o idealizador do Festival Literário de Araxá (Fliaraxá) e do Sempre um Papo –, o Flitabira realizará sua terceira edição entre os dias 31 outubro e 5 de novembro de 2023, celebrando 121 anos de nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade. As atividades acontecem tanto de forma presencial, na Praça do Centenário, quanto on-line, pelo canal no YouTube do Festival.
O Flitabira tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira e União Brasileira de Escritores – UBE.
INSTITUTO CULTURAL VALE
O Instituto Cultural Vale parte do princípio de que viver a cultura possibilita às pessoas ampliarem sua visão de mundo e criarem novas perspectivas de futuro. Tem um importante papel na transformação social e busca democratizar o acesso, fomentar a arte, a cultura, o conhecimento e a difusão de diversas expressões artísticas do nosso país, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento da economia criativa. Nos anos 2020-2022, o Instituto Cultural Vale patrocinou mais de 600 projetos em mais de 24 estados e no Distrito Federal. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com visitação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org
SERVIÇO:
III Flitabira – Festival Literário Internacional de Itabira
De 31 de outubro a 5 de novembro
Local: Praça do Centenário (Rua Maj. Lage, 121 – Centro Histórico)
Informações: www.flitabira.com.br
Informações para a imprensa: info@flitabira.com.br